Lembranças
>> segunda-feira, 5 de novembro de 2007
Da outra vez que minha mãe veio aqui pro Japão nem pensei nisso, mas ontem quando fui jogar a garrafinha de chá que ela sempre carregava dentro da bolsa me lembrei dela e me deu um aperto no coração. Hoje olhei para o meu canteirinho de flores, é outra recordação que ela deixou. Meus pais sempre gostaram muito de flores e sempre que vejo um jardim bem cuidado me lembro deles. Minha mãe replantou minha margarida e minhas arrudas, além de comprar algumas mudas de flores e de sair pedindo outras pela vizinhança. Espero conseguir cuidar bem dessas plantas, sou uma negação nesse ponto. As únicas plantas que consegui cultivar sem problemas até agora são meus 2 cactos que deixo na entrada de casa. Já os tenho há pelo menos 7 anos e agora eles ganharam a companhia de uma plantinha diferente que não sei o nome. Minha mãe comprou quando foi na casa do meu irmão e trouxe quando voltou pra cá. No começo fiquei com um pouco de nojo, pois ela me lembrou várias lesmas juntas... éca. Agora acho bonitinha.
Estou sentindo muita falta dela. De repente parece que ela envelheceu, se cansa com facilidade, sente muita dor nas pernas. Da outra vez ela não parava, ia caminhar todos os dias, estava bem mais disposta. Dessa vez ela estava tão frágil, com as pernas fracas tinha dificuldade até pra levantar do sofá, por isso mesmo passamos mais tempo deitadas juntas assistindo tv. Quase caiu em um passeio que fizemos no feriadão, foi descer um degrau e torceu o tornozelo, perdeu o equilíbrio e foi descendo até um senhor segurá-la. No sábado quase caiu na hora de recolher a roupa, ainda bem que eu estava do lado dela pra poder segurá-la. Mas dentro do ônibus ela tomou um capote. Se sentou do outro lado e antes que o ônibus partisse ela veio dar um último aceno, de repente desapareceu e levantou com um sorrisinho de quem acabou de pagar o mó mico. Levei um susto mas depois acabei achando engraçado :p
Ela tem bastante coisas pra contar dessa viagem. Como por exemplo quando se perdeu perto da casa do meu irmão. Foi caminhar pelas redondezas e depois não conseguia mais achar o caminho de volta. Ela não tem nenhum senso de direção. Pior que saiu e não levou a bolsa, só pegou a garrafinha de chá e foi se aventurar, sem saber o endereço nem o telefone não tinha como voltar pra casa. O jeito foi ir até a prefeitura e a tradutora ligar pra empreiteira pra saber o telefone do meu irmão, aí ele foi buscá-la na prefeitura. Outra vez foi quando meu irmão foi levar a esposa ao médico e deixou minha mãe num depato ali perto. Ela ficou no 100 yen shop, mas quando eles foram procurar, minha mãe tinha desaparecido da loja. Como ele havia deixado o celular dele com ela ficou ligando pelo celular da mulher, mas minha mãe não atendia porque enfiou o aparelho na bolsa e simplesmente não ouvia chamar (ela está bem mais surda que da outra vez). Outra foi no correio aqui perto de casa. Ela queria mandar uma caixa, já que não cabia todas as coisas dentro das malas. Primeiro ela foi perguntar sobre os valores e deram uma tabela a ela e explicaram sobre o tamanho da caixa. Explicaram errado, então ela mediu errado e quando fomos levar a caixa o rapaz não quis mandar. E ela ali insistindo inconformada. Eu já estava impaciente e dei uma cortada pedindo pro rapaz levar a caixa de volta para o carro (pesando 30 kg eu não agüentava carregar sozinha). Pensamento dela: "No Brasil, se insistir eles sempre dão um jeitinho de deixar passar." Só que aqui não é Brasil e se o funcionário fala "Não dá!" não adianta insistir: não dá! Voltamos pra casa e eu diminuí a caixa e rearrumamos as coisas. Quando voltamos ao correio, outro dia, e minha mãe entrou pra chamar alguém pra carregar a caixa, o rapaz já saiu de lá de dentro com uma fita métrica na mão antes mesmo de ouvir o que ela tinha a dizer. Deve ter pensado: "Ixi, voltou aquela velha senhora insistente." Mas quando ele foi medir estava direitinho no limite do tamanho mas a caixa, apesar de menor, voltou mais pesada que da vez anterior :p
Essa hora ela ainda está dentro do avião. Daqui a 1 ano e meio ela estará de volta, desta vez junto com meu pai. Espero poder dar muitas risadas juntas novamente.
Essa hora ela ainda está dentro do avião. Daqui a 1 ano e meio ela estará de volta, desta vez junto com meu pai. Espero poder dar muitas risadas juntas novamente.
3 Comentário(s):
Herika, para variar fiquei emocionada com seu post...já comecei a imaginar o mesmo com minha mãe, que já começa a apresentar esses sinais.A passagem do tempo é mesmo implacavel, o coração da gente fica pequenininho ao ver essas coisas...fico feliz por vcs terem passado esse tempo juntas, imagino o quanto deve ser dificil ver sua mãe tão poucas vezes...
Beijos !!
Hérika, depois passa no meu blog que tem um presentinho para vc !
Beijocas !
Que demais as histórias da sua mamãe! Ela me parece ser uma senhora muito divertida! =D
É uma pena que vocês quase não se vejam, né... mas espero que esse um ano e meio passe bem rápido para você poder vê-la logo de novo. =)
Beijos, Herika!
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