Infância saudável
>> domingo, 30 de abril de 2006
Hoje resolvi escrever sobre minha infância. Faz um tempo que ando pensando sobre ela. Algumas coisas que aconteceram, que eu e meus irmãos aprontamos. Éramos terríveis. Dispensável dizer que apanhamos muuuuuuuito. Mas nem assim a gente se comportava. Se a Melissa puxar esse meu lado, eu estou literalmente ferrada.
Comecei a refletir sobre isso quando li alguns comentários polêmicos sobre como educar uma criança. É uma arte complicadíssima. Muito difícil saber qual o limite do rigor. Tem gente com opiniões radicais e é muito difícil entrar em uma discussão como essa sem acabar brigando, por isso preferi não me manifestar. Nossos pais fizeram o que acharam ser o melhor para nós, e é assim que agimos com nossos filhos, pelo menos é assim comigo. Se eles acertaram sempre? Claro que não. Ficaram traumas? Também não.
Hoje em dia há uma lei, ou um projeto de lei não sei ao certo, que proíbe os pais de baterem em seus filhos. Pessoalmente, acho isso o cúmulo do absurdo. Não sou adepta a espancamentos logicamente, sempre acho melhor ter uma boa conversa antes. Mas convenhamos, nem sempre a criança está disposta a ouvir e às vezes ainda não tem discernimento suficiente para compreender o que estamos tentando explicar. Então para que possamos controlar acho que é necessário algumas palmadas, sim. Nunca bati na Melissa, acho que ela não entenderia ainda. Já dei uns beliscões e me cortou o coração quando ela chorou. Mas parou de me bater, uma mania feia que ela está agora. Espero que não precise bater, espero que ela seja bastante obediente, espero ter paciência suficiente para sempre explicar porque eu proíbo alguma coisa, espero ser coerente e não proibir coisas sem importância. É realmente muito difícil.
Lembrei-me que minha mãe me ensinou a esquentar o meu leite, no fogão lógico, quando eu tinha 7 anos. Com 8 anos eu já fazia o arroz e o missoshiru. Sim, eu já usava a faca para cortar as coisas e mexia com fogo, coisas que hoje em dia é raridade uma mãe permitir que uma criança com 8 anos tenha acesso.
E nessa idade ficávamos trancados dentro de casa enquanto meus pais estavam na loja.
Íamos para a escola, que ficava do lado da loja, de manhã. Minha mãe voltava comigo e meu irmão para casa e ia pegar meu irmãozinho do prézinho, que ficava do lado de casa. Dava o almoço, comia e voltava pra loja. Meu pai voltava pra almoçar, nos deixava trancados e ia pra loja. Eles só fechavam a loja às 19:00. Tínhamos a tarde inteeeeira só pra nós.
Eu jamais deixaria crianças tão pequenas trancadas dentro da casa por tanto tempo, nunca se sabe o que elas podem aprontar e com a porta e janela trancadas ninguém conseguiria tirá-las de lá no caso de um incêndio, por exemplo. Mas tenho certeza que meus pais faziam isso por acharem que seria melhor para nós. Estaríamos com nossos brinquedos, teríamos a tv e estaríamos em nosso habitat e sem o perigo de sairmos pra rua e sermos atropelados, por exemplo (naquela época ainda não existia o perigo dos seqüestros se não fosse um milionário). Na loja não teríamos nada disso, fora que não poderíamos correr, brincar, gritar, coisas normais de crianças na nossa idade. Eu com 8 anos, Naoki com 7 e Tomoaki com 5.
Imagino como devia ser difícil para eles agirem assim. Porque realmente quase botamos fogo na casa. Pelo menos o ofurô queimou inteiro.
Um dia pintamos o banheiro com uma brocha que encontramos de molho na água-rás. Tinha um pouco de tinta amarela ainda e aproveitamos para pintar o vaso, o chuveiro, as paredes, o espelho, as lâmpadas, a pia e o chão.
Um outro dia acabamos com o pote de margarina de uma vez. Comemos? Claro que não!!! Fazíamos bolinha com a margarina e com a ponta da faca lançamos ao teto. Minha mãe não conseguiu limpar e uma vez quando veio uma visita e estava lá na cozinha, começou a derreter a margarina grudada no teto e começou a pingar na mesa. Um vexame...
Ganhamos um brinquedo que era novidade na época. Se chamava Geleca. Era um Gel que se você tacasse na parede, ele grudava. Era divertido. Eu ganhei um rosa e meus irmãos ganharam verdes. Aí eu tive a idéia de tacar no teto da sala pra ver se grudava. Grudou e não tinha nada no mundo que fizesse desgrudar. Meus irmãos aderiram, claro. Aí ficamos pensando em como fazer aquilo cair do teto pra podermos continuar brincando. Eu peguei a vassoura de piaçaba e esfreguei na minha Geleca. A única coisa que consegui foi espalhar aquele gel no teto. Aí o Naoki pegou a vassoura de pêlos e o Tomoaki pegou o rodo. Nenhum de nós conseguiu reaver o brinquedo, mas ficou uma arte abstrata e psicodélica verde e rosa no teto da sala.
Uma vez meu irmão foi tentar escalar o guarda-roupa, o dito cujo tombou com o peso dele e ele só não foi esmagado porque o quarto era pequeno e o guarda-roupa parou no beliche. Eu subia no guarda-roupa com facilidade e uma vez caí de cima dele. Fiquei sem voz por um tempo por causa do baque, eu caí sentada. Aliás, tínhamos verdadeira fascinação por guarda-roupas. Entrávamos dentro do guarda-roupas dos meus pais e ficávamos lá até estourar o fundo. Ele tinha seis compartimentos e quebramos 2 cada um. E isso não aconteceu apenas uma vez. Bastava meu pai mandar arrumar que nós já estávamos enfiados lá dentro de novo.
Éramos extremamente originais e tínhamos uma imaginação pra lá de fértil. Então minha mãe resolveu contratar uma babá. Ela era uma menina de 17 anos que obviamente nós dominamos e ela acabou se demitindo depois de 2 dias.
A cada arte apanhávamos muito. Uma vez minha mãe pegou meu irmão pelo braço e foi dar um tapa na perna. Desceu a mão com tanta força que o relógio, que ela sempre usou no braço direito, escapou e se espatifou na parede. Todos apanhavam. Mas isso não nos intimidava, tínhamos energia demais e meus pais tempo de menos. Mas nem por isso éramos menos amados. Eles fizeram o melhor que puderam, deram o melhor de si, sempre pensando em nosso futuro. Minha mãe é uma pessoa super possessiva e mãe super protetora. Com crianças como nós, eu imagino que ela não devia trabalhar sossegada, mas ela tinha que agir daquele jeito, acho que não havia outra opção. E eu não fiquei com traumas ou problemas psicológicos. Concordo que os tempos eram outros, mas a educação ainda é a mesma. Boa educação. Apesar de detonarmos dentro de casa, éramos verdadeiros anjinhos na casa dos outros. Não mexíamos em nada, não respondíamos com malcriações. Comportados? Claro que não, continuávamos com muita energia pra gastar, mas éramos inacreditavelmente obedientes, pois sabíamos que eles nos castigariam sem dó e tínhamos vergonha de apanhar na frente dos outros.
No lugar dos meus pais eu também teria batido muito. É óbvio que eles conversavam o porque de estarmos apanhando. Apesar que, confesso, eu sabia quando ia apanhar e mesmo assim eu fazia, e acho que meus irmãos também tinham consciência de quando estavam errados, mas mesmo assim faziam.
Cada pai conhece a cria que tem. Não acho que devemos ficar julgando. É muito fácil ver defeitos nos filhos dos outros ou na maneira como os outros criam seus filhos. Sempre detestei criança chorona. Melissa é chorona. Acho horrível criança que mexe em tudo. Melissa mexe em tudo. Meu pai falava que o Naoki, quando aprendeu a andar, estava sempre andando na ponta dos pés pra poder enxergar o que tinha em cima da mesa pra poder puxar e mexer. Nunca vi uma criança fazer isso. Hoje tenho uma filha que vive na ponta dos pés pra tentar pegar as coisas que estão fora do seu alcance. Não tenho paciência nenhuma com crianças que não obedecem e nos enfrentam apenas para mostrar que não vão nos obedecer, nem que seja uma coisa simples como 'Come sentadinho no sofá', por exemplo. Graças a Deus Melissa tem medo de levar bronca e obedece. Sou muito cri-cri? Sim, sou. Mesmo que sejam coisas simples, acho que a criança tem que saber respeitar e obedecer. Saber que existem limites. Já falei sobre isso em outro post. Acho que a gente tem que ter coerência quando proíbimos alguma coisa. Falar que não pode agora e depois não ter saco pra sustentar a proibição e deixar a criança fazer o que quer só mostra o quanto você educa mal. A criança entende que ganha pelo cansaço e não obedece nunca mais. Se com 2 ou 3 anos já é assim, vai crescer assim. Quando estiver na adolescência provavelmente vai bater nos pais quando perceber que foi contrariado. Isso quando não faz coisa pior. Creio que o caso daquela garota, Suzana Richthofen, retrata bem isso. Antes de ficar criticando os filhos dos outros devemos olhar nossos filhos primeiro, às vezes eles fazem coisa pior e só a gente que não enxerga ou já estamos acostumados demais com que ele faça isso que já nem ligamos mais. Mas com toda a certeza isso irrita os outros, assim como os filhos dos outros nos irritam.
Meus pais eram super rigorosos. E eu tive uma infância feliz e saudável. E carrego comigo ótimas recordações.
Comecei a refletir sobre isso quando li alguns comentários polêmicos sobre como educar uma criança. É uma arte complicadíssima. Muito difícil saber qual o limite do rigor. Tem gente com opiniões radicais e é muito difícil entrar em uma discussão como essa sem acabar brigando, por isso preferi não me manifestar. Nossos pais fizeram o que acharam ser o melhor para nós, e é assim que agimos com nossos filhos, pelo menos é assim comigo. Se eles acertaram sempre? Claro que não. Ficaram traumas? Também não.
Hoje em dia há uma lei, ou um projeto de lei não sei ao certo, que proíbe os pais de baterem em seus filhos. Pessoalmente, acho isso o cúmulo do absurdo. Não sou adepta a espancamentos logicamente, sempre acho melhor ter uma boa conversa antes. Mas convenhamos, nem sempre a criança está disposta a ouvir e às vezes ainda não tem discernimento suficiente para compreender o que estamos tentando explicar. Então para que possamos controlar acho que é necessário algumas palmadas, sim. Nunca bati na Melissa, acho que ela não entenderia ainda. Já dei uns beliscões e me cortou o coração quando ela chorou. Mas parou de me bater, uma mania feia que ela está agora. Espero que não precise bater, espero que ela seja bastante obediente, espero ter paciência suficiente para sempre explicar porque eu proíbo alguma coisa, espero ser coerente e não proibir coisas sem importância. É realmente muito difícil.
Lembrei-me que minha mãe me ensinou a esquentar o meu leite, no fogão lógico, quando eu tinha 7 anos. Com 8 anos eu já fazia o arroz e o missoshiru. Sim, eu já usava a faca para cortar as coisas e mexia com fogo, coisas que hoje em dia é raridade uma mãe permitir que uma criança com 8 anos tenha acesso.
E nessa idade ficávamos trancados dentro de casa enquanto meus pais estavam na loja.
Íamos para a escola, que ficava do lado da loja, de manhã. Minha mãe voltava comigo e meu irmão para casa e ia pegar meu irmãozinho do prézinho, que ficava do lado de casa. Dava o almoço, comia e voltava pra loja. Meu pai voltava pra almoçar, nos deixava trancados e ia pra loja. Eles só fechavam a loja às 19:00. Tínhamos a tarde inteeeeira só pra nós.
Eu jamais deixaria crianças tão pequenas trancadas dentro da casa por tanto tempo, nunca se sabe o que elas podem aprontar e com a porta e janela trancadas ninguém conseguiria tirá-las de lá no caso de um incêndio, por exemplo. Mas tenho certeza que meus pais faziam isso por acharem que seria melhor para nós. Estaríamos com nossos brinquedos, teríamos a tv e estaríamos em nosso habitat e sem o perigo de sairmos pra rua e sermos atropelados, por exemplo (naquela época ainda não existia o perigo dos seqüestros se não fosse um milionário). Na loja não teríamos nada disso, fora que não poderíamos correr, brincar, gritar, coisas normais de crianças na nossa idade. Eu com 8 anos, Naoki com 7 e Tomoaki com 5.
Imagino como devia ser difícil para eles agirem assim. Porque realmente quase botamos fogo na casa. Pelo menos o ofurô queimou inteiro.
Um dia pintamos o banheiro com uma brocha que encontramos de molho na água-rás. Tinha um pouco de tinta amarela ainda e aproveitamos para pintar o vaso, o chuveiro, as paredes, o espelho, as lâmpadas, a pia e o chão.
Um outro dia acabamos com o pote de margarina de uma vez. Comemos? Claro que não!!! Fazíamos bolinha com a margarina e com a ponta da faca lançamos ao teto. Minha mãe não conseguiu limpar e uma vez quando veio uma visita e estava lá na cozinha, começou a derreter a margarina grudada no teto e começou a pingar na mesa. Um vexame...
Ganhamos um brinquedo que era novidade na época. Se chamava Geleca. Era um Gel que se você tacasse na parede, ele grudava. Era divertido. Eu ganhei um rosa e meus irmãos ganharam verdes. Aí eu tive a idéia de tacar no teto da sala pra ver se grudava. Grudou e não tinha nada no mundo que fizesse desgrudar. Meus irmãos aderiram, claro. Aí ficamos pensando em como fazer aquilo cair do teto pra podermos continuar brincando. Eu peguei a vassoura de piaçaba e esfreguei na minha Geleca. A única coisa que consegui foi espalhar aquele gel no teto. Aí o Naoki pegou a vassoura de pêlos e o Tomoaki pegou o rodo. Nenhum de nós conseguiu reaver o brinquedo, mas ficou uma arte abstrata e psicodélica verde e rosa no teto da sala.
Uma vez meu irmão foi tentar escalar o guarda-roupa, o dito cujo tombou com o peso dele e ele só não foi esmagado porque o quarto era pequeno e o guarda-roupa parou no beliche. Eu subia no guarda-roupa com facilidade e uma vez caí de cima dele. Fiquei sem voz por um tempo por causa do baque, eu caí sentada. Aliás, tínhamos verdadeira fascinação por guarda-roupas. Entrávamos dentro do guarda-roupas dos meus pais e ficávamos lá até estourar o fundo. Ele tinha seis compartimentos e quebramos 2 cada um. E isso não aconteceu apenas uma vez. Bastava meu pai mandar arrumar que nós já estávamos enfiados lá dentro de novo.
Éramos extremamente originais e tínhamos uma imaginação pra lá de fértil. Então minha mãe resolveu contratar uma babá. Ela era uma menina de 17 anos que obviamente nós dominamos e ela acabou se demitindo depois de 2 dias.
A cada arte apanhávamos muito. Uma vez minha mãe pegou meu irmão pelo braço e foi dar um tapa na perna. Desceu a mão com tanta força que o relógio, que ela sempre usou no braço direito, escapou e se espatifou na parede. Todos apanhavam. Mas isso não nos intimidava, tínhamos energia demais e meus pais tempo de menos. Mas nem por isso éramos menos amados. Eles fizeram o melhor que puderam, deram o melhor de si, sempre pensando em nosso futuro. Minha mãe é uma pessoa super possessiva e mãe super protetora. Com crianças como nós, eu imagino que ela não devia trabalhar sossegada, mas ela tinha que agir daquele jeito, acho que não havia outra opção. E eu não fiquei com traumas ou problemas psicológicos. Concordo que os tempos eram outros, mas a educação ainda é a mesma. Boa educação. Apesar de detonarmos dentro de casa, éramos verdadeiros anjinhos na casa dos outros. Não mexíamos em nada, não respondíamos com malcriações. Comportados? Claro que não, continuávamos com muita energia pra gastar, mas éramos inacreditavelmente obedientes, pois sabíamos que eles nos castigariam sem dó e tínhamos vergonha de apanhar na frente dos outros.
No lugar dos meus pais eu também teria batido muito. É óbvio que eles conversavam o porque de estarmos apanhando. Apesar que, confesso, eu sabia quando ia apanhar e mesmo assim eu fazia, e acho que meus irmãos também tinham consciência de quando estavam errados, mas mesmo assim faziam.
Cada pai conhece a cria que tem. Não acho que devemos ficar julgando. É muito fácil ver defeitos nos filhos dos outros ou na maneira como os outros criam seus filhos. Sempre detestei criança chorona. Melissa é chorona. Acho horrível criança que mexe em tudo. Melissa mexe em tudo. Meu pai falava que o Naoki, quando aprendeu a andar, estava sempre andando na ponta dos pés pra poder enxergar o que tinha em cima da mesa pra poder puxar e mexer. Nunca vi uma criança fazer isso. Hoje tenho uma filha que vive na ponta dos pés pra tentar pegar as coisas que estão fora do seu alcance. Não tenho paciência nenhuma com crianças que não obedecem e nos enfrentam apenas para mostrar que não vão nos obedecer, nem que seja uma coisa simples como 'Come sentadinho no sofá', por exemplo. Graças a Deus Melissa tem medo de levar bronca e obedece. Sou muito cri-cri? Sim, sou. Mesmo que sejam coisas simples, acho que a criança tem que saber respeitar e obedecer. Saber que existem limites. Já falei sobre isso em outro post. Acho que a gente tem que ter coerência quando proíbimos alguma coisa. Falar que não pode agora e depois não ter saco pra sustentar a proibição e deixar a criança fazer o que quer só mostra o quanto você educa mal. A criança entende que ganha pelo cansaço e não obedece nunca mais. Se com 2 ou 3 anos já é assim, vai crescer assim. Quando estiver na adolescência provavelmente vai bater nos pais quando perceber que foi contrariado. Isso quando não faz coisa pior. Creio que o caso daquela garota, Suzana Richthofen, retrata bem isso. Antes de ficar criticando os filhos dos outros devemos olhar nossos filhos primeiro, às vezes eles fazem coisa pior e só a gente que não enxerga ou já estamos acostumados demais com que ele faça isso que já nem ligamos mais. Mas com toda a certeza isso irrita os outros, assim como os filhos dos outros nos irritam.
Meus pais eram super rigorosos. E eu tive uma infância feliz e saudável. E carrego comigo ótimas recordações.
Postar um comentário